quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Bio

Eis aqui

minha urgência.

Começaria assim a minha auto biografia, caso eu não fosse personagem deste que muito mal me traçou. Mas sou só uma tentativa frustrada de negociação com as próprias vicissitudes da vida [dele]. Quando falo dele, parece que tou falando de deus. É uma coisa meio estranha. Personagens deveriam ganhar muito dinheiro para ser o que são [e o que não são]. Mas não é sobre isso que eu queria falar hoje, Jupira. Mas também serve. Personagens de aluguel poderiam compor muito bem uma agência, uma ong, sei lá. Todos esperando pra serem contratados por esses criadores frágeis e indefesos que teimam em se idealizar gênios em seus gabinetes cheirando a mofo de livros que lêem, relêem e plagiam. No fundo gostam mesmo é da geléia de morango que todos os grandes mortais usam em seus amores inventados. Pensa só.

então a minha auto biografia terminaria assim:

...e eu fui sumindo, sumindo, quando ela acendeu a luz. Fim.

É que ela era poeta [por favor, não me corrijam dizendo que o feminino de poeta é poetisa.]. E advogada. Tinha uma retórica quase convincente, mas no fundo era só alguém com uma moral flexível. Gostava de colocar frases de Clarice Lispector no facebook, mas tampouco era louca de dizer que dava para o mal. Tinha urgência do casamento, mas não queria dividir a cama. Queria me encontrar, mas não tinha tempo. Dizia que me amava, mas não se jogava aos meus pés. Mostrava suas gorduras, mas não me encarava. Queria fazer uma micro tatuagem no ânus como aquela personagem que pintava caralhos, mas não sabia o quê tatuar. Era Nietzscheana, fazia pilates, terceira faculdade, limpeza nos dentes e nos ouvidos de seis em seis meses [morria de medo de ficar surda], no fundo queria ser a Adélia Prado. Ou a Elisa Lucinda. Cantava O Bêbado e a Equilibrista todas as vezes que encontrava alguém ao piano. Depois cantava Detalhes. Quando foi a Cuba pela primeira vez se sentiu mal. Mal mesmo. Enfim leu-me um trecho de um poemitcho seu. Isso foi na mesma noite em que fomos pela primeira vez a um motel. Depois da nossa primeira transa. E única. Depois do primeiro poemitcho, veio o segundo. E o terceiro. Foi quando ela acendeu a luz. Empolgou-se a guria. E foi aí que eu sumi. Se ela me procurou? Não...Nessa época eu tinha outro nome. Era outra coisa.

Entende?

Não queria explicar esse post. Mas esses passeios pela vida afora são umas quimeras negociáveis...uns ajustes nas juntas dos ossos...ou um concerto para os com almas. Ainda assim me agito. A gente se agita. A gente já deveria saber muito bem o andamento dos enredos. O Propp provou mais ou menos isso que eu estou falando.

No meio da minha auto biografia eu diria assim:

...Sou um personagem que só se estimula quando os dormentes quebram nos trilhos. E quando as outras personagens se perdem e nunca mais voltam. Pra que um dia voltem.

antes do fim eu diria:

Não sei o que é isso que escrevi. Mas vai ficar.

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