quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Loba à deriva
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Alma tacanha
Já que estamos em época de eleição, fiquei pensando várias coisas e observando a linha férrea que dá na Central do Brasil.
Aqui em cima dessa ponte onde estou é agradável. Alguns moleques soltam pipas e outros moleques, que matam aulas, jogam pedrinhas lá embaixo, na linha do trem. Daqui de cima, também os malandros pulam e fogem da polícia. À noite é bom evitar passar por aqui. Mas com tudo isso, deste lugar que é alto fica bem gostoso ver a vida. Tava era muito calor aqui no subúrbio, Jupira. Agora melhorou um pouco. Ventou muito. E eu com calor não sou ninguém. Fiquei pensando: com tanto calor quase excomungo ou rejeito o sol, fonte da vida na Terra. E a água? Que não se sabe de onde ela vem. Quero dizer, vem do Rio Guandu, isso a gente sabe. Mas por onde ela passa ou o que passa nela é que não se sabe. Devia eu é fazer um curso técnico na Sedae. Ainda mais quando se sabe que no Rio Guandu tem tudo que não é de direito: sofá boiando, garrafa, saco de lixo, gente desovada, cabeça de cachorro. Melhor até parar por aqui. Tem dias que a água vem de cloro até a alma. O cheiro forte do cloro. O corpo da gente feito mármore que se clareia com água sanitária.
O subúrbio ainda tem certa beleza como nas lembranças do meu avô quando ele resolvia contar dos tempos do Rio Antigo. Mas a alma das gentes ainda é muito tacanha. Mas ainda sobra certa nostalgia de um tempo em que se colocava cadeira no portão e conversava com o vizinho. A tristeza é que não se vê mais essas coisas por aqui. A padaria da esquina é assaltada uma vez por semana, sem exagero. Fico com um aperto muito grande no coração porque todo dia quando eu vou lá comprar pão, o “baixinho”, sem ninguém saber, coloca de três a quatro pães a mais na sacola. Se eu peço quatro ele coloca seis ou oito dependendo do dia. O “baixinho” faz isso com todo mundo. Todo mundo sabe. A dona da padaria já disse que lá ele não serve mais pão, que não confia mais nele. Agora ele varre o chão e só. Mas nenhum cliente fala nada. Quero ver se ele perder o emprego quem é que vai lhe dar outro. O jornaleiro também foi assaltado outro dia. Essa banca de jornal da esquina, que fica ao lado da padaria, não sei como fizeram, mas a banca fica em uma escada que não sei como não despenca. Só vendo. Pra eu ler um jornal que preste __ se é que hoje os jornais prestam __ eu tenho que encomendar e pagar com antecedência pro jornaleiro porque os melhores jornais da cidade não têm saída nesse bairro. Tem é o tal do jornal que coloca os homens enforcados, desovados, decepados, sem um olho como matéria de capa. A casa ao lado da casa da minha tia foi surpreendida por tiros. Escutei daqui da minha janela do terceiro andar na outra rua. Mataram foi o marido de uma senhora que me viu crescer, lembro dela, lembro da voz dela, a voz fina que nunca consegui entender aquela voz. Outras: O coreto da pracinha foi tombado pelo patrimônio histórico. Isso eu li no jornal. Falaram da boa acústica dos coretos dos subúrbios.
Desde que eu cheguei aqui na casa de titia, tou sentindo moleza no corpo. Não sei se é calor ou se é uma tal de virose que anda solta.Sempre essas, hein: virose. Também penso que é da água. Da água que vem do Rio Guandu. Se não é da água deve ser da alma. Tem vírus de computador, deve ter vírus de alma, a ciência é que não descobre. Está mais ocupada é com clonagem. E o povo ocupado com beleza e lipo aspiração tentando afastar velhice e morte natural. As mulheres do subúrbio fazem ginástica. Vão pra academia e fazem abdominais e outras essas coisas. Umas não. Não tiram a barriga do fogão. Fico pensando na Elis Regina senão tivesse sido cantora. Estaria lá
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Mesma matéria
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Bio
minha urgência.
Começaria assim a minha auto biografia, caso eu não fosse personagem deste que muito mal me traçou. Mas sou só uma tentativa frustrada de negociação com as próprias vicissitudes da vida [dele]. Quando falo dele, parece que tou falando de deus. É uma coisa meio estranha. Personagens deveriam ganhar muito dinheiro para ser o que são [e o que não são]. Mas não é sobre isso que eu queria falar hoje, Jupira. Mas também serve. Personagens de aluguel poderiam compor muito bem uma agência, uma ong, sei lá. Todos esperando pra serem contratados por esses criadores frágeis e indefesos que teimam em se idealizar gênios em seus gabinetes cheirando a mofo de livros que lêem, relêem e plagiam. No fundo gostam mesmo é da geléia de morango que todos os grandes mortais usam em seus amores inventados. Pensa só.
então a minha auto biografia terminaria assim:
...e eu fui sumindo, sumindo, quando ela acendeu a luz. Fim.
É que ela era poeta [por favor, não me corrijam dizendo que o feminino de poeta é poetisa.]. E advogada. Tinha uma retórica quase convincente, mas no fundo era só alguém com uma moral flexível. Gostava de colocar frases de Clarice Lispector no facebook, mas tampouco era louca de dizer que dava para o mal. Tinha urgência do casamento, mas não queria dividir a cama. Queria me encontrar, mas não tinha tempo. Dizia que me amava, mas não se jogava aos meus pés. Mostrava suas gorduras, mas não me encarava. Queria fazer uma micro tatuagem no ânus como aquela personagem que pintava caralhos, mas não sabia o quê tatuar. Era Nietzscheana, fazia pilates, terceira faculdade, limpeza nos dentes e nos ouvidos de seis em seis meses [morria de medo de ficar surda], no fundo queria ser a Adélia Prado. Ou a Elisa Lucinda. Cantava O Bêbado e a Equilibrista todas as vezes que encontrava alguém ao piano. Depois cantava Detalhes. Quando foi a Cuba pela primeira vez se sentiu mal. Mal mesmo. Enfim leu-me um trecho de um poemitcho seu. Isso foi na mesma noite em que fomos pela primeira vez a um motel. Depois da nossa primeira transa. E única. Depois do primeiro poemitcho, veio o segundo. E o terceiro. Foi quando ela acendeu a luz. Empolgou-se a guria. E foi aí que eu sumi. Se ela me procurou? Não...Nessa época eu tinha outro nome. Era outra coisa.
Entende?
Não queria explicar esse post. Mas esses passeios pela vida afora são umas quimeras negociáveis...uns ajustes nas juntas dos ossos...ou um concerto para os com almas. Ainda assim me agito. A gente se agita. A gente já deveria saber muito bem o andamento dos enredos. O Propp provou mais ou menos isso que eu estou falando.
No meio da minha auto biografia eu diria assim:
...Sou um personagem que só se estimula quando os dormentes quebram nos trilhos. E quando as outras personagens se perdem e nunca mais voltam. Pra que um dia voltem.
antes do fim eu diria:
Não sei o que é isso que escrevi. Mas vai ficar.
domingo, 5 de setembro de 2010
Poesia concreta
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Ainda sou Astor
Não, definitivamente ninguém fica pra trás. Nada fica. Tudo está. Só que eu te entendo perfeitamente. Fico olhando os pobres que ficam esperando tudo caber nos seus sonhos, como dizia o poeta. Veja bem: uma mulher que diz pra eu fazer a barba (só porque tenho fiapos brancos no queixo), diz pra eu tirar determinado objeto do pulso. Fico pensando no que pode vir por aí. Ela quer me inventar. Não seria mais fácil aceitar essa coisa estranha chamada Astor, que só foi chamada de Astor porque mamãe (aquela que não conheci) disse? Ah, “eu sou eu porque o meu cachorrinho me conhece”. Mania que tem de querer transformar tudo. Pior são os que pensam demais. Um carro é uma arma. Um pensamento também. E eu fico vendo essa maravilha de cenário. Um amigo levou um pé na bunda da mulher. Viveu com ela dois anos e agora não consegue decifrar tudo o que foi dito. Está cheio de perguntas sem nenhuma hipótese de respostas. E olha que o calor das hipóteses é tão interessante. (?) Fico de bico aberto com isso. Como não reconhecer ou deslindar umas coisas ditas por uma pessoa que você sabia até a sincronia da respiração? A palavra é esquisita. Juntar palavras é mais esquisito ainda. Falar sobre alma é assustador. Será que é melhor ficar com as coisas mais palpáveis? Tipo as coisas da rotina? Eu tenho a péssima mania de roubar as estranhezas dos outros. E vou me entupindo de charcos dessa mistura de sal e açúcar contida nas lágrimas dos risos e tristezas. Acabei fazendo a barba. Tava me coçando. Não suporto coceira. Mas ando querendo dar “uma coça” em algumas pessoas. Merecem. Podes crer.
Estou indo pra algum lugar, Jupira. Que não sei onde é. Mas estou indo.
Quando eu chegar lá eu te digo onde estou e em que me transformei. Ao menos em uns segundos.