sábado, 29 de maio de 2010

Verdades e primaveras

Sou uma mulher de poucas vaidades: não me maquio, não pinto as unhas e só me depilo mesmo quando há uma real possibilidade de sexo. Acho que isso faz parte da minha praticidade. Pra quê passar maquiagem e depois ter de tirar? Esmalte, então, nem se fala, quando começa a descascar, a gente fica parecendo uma trabalhadora da Vila Mimosa. Tô fora, não gosto de complicar coisas que na verdade são simples. Por exemplo, esse negócio de alguém ter o poder de acabar com a gente é balela, ainda mais mulher. Mulher é um bicho que quando apaixonado é capaz de retribuir em dobro qualquer gentileza, por menor que ela seja. Massagem nas costas acompanhada de beijinhos no pescoço, por exemplo, transforma qualquer piriguete em gueixa. Agora, homem, só deixa mesmo de ser moleque quando morre, mas, a partir dos 25 anos, pelo menos aprende a disfarçar a olhada pros nossos peitos no meio de uma conversa. É muito chato se sentir alcatra. Quer ver outra coisa chata? A gravidade. Quando eu era menina, fui bailarina e tinha umas pernas de parar o comércio. A bunda então, era uma loucura. Aliás, acho um pecado depois de uns anos a gente só poder ver nosso magnífico backstage em fotos do passado. Uma lástima. Outro dia uma amiga me disse que certo mesmo na vida são a morte e a gravidade. Achei legal a conclusão dela. No fundo, no fundo, preferia nunca ter sido tão gostosa, pra não ficar nessa espécie de saudosismo. Isso porque não sou vaidosa, hein, imagina se fosse.
Agora vou indo que hoje é meu aniversário e tem um pessoal vindo pra cá pra casa. A propósito, estou completando 37 primaveras.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A rosa do nome

Astor. meu nome é Astor. meu pai me deu esse nome por causa de um cachorro que ele teve. eu só conheci Astor por fotografia. lá pros meus oito ou nove anos, quando comecei a entender alguma coisa da vida, fiquei por longo tempo a olhar a foto de Astor. Tentava eu entender qual a relação que meu pai estabelecera entre o cão e o seu filho. no caso, o filho, era eu. porque o Astor-cão era como se fosse um pai pro meu pai. mas isso eu só fui entender quando completei vinte e cinco anos. foi quando eu soube por meu pai que um homem a partir dos vinte e cinco anos era finalmente um homem. mas eu só fui entender isso quando cheguei aos trinta e oito. mas voltando ao Astor, o cão. por mais que eu olhasse a cara daquele animal, eu não conseguia estabelecer aquela relação narcísica que geralmente a gente estabelece quando encontramos alguém com o mesmo nome que o nosso. depois de ficar um ano andando com uma foto do cão do meu pai pra cima e pra baixo, eu conheci outro Astor. o Piazzola. mas do Piazzola eu falo depois, porque aí eu já estava namorando uma menina chamada Mércia. A Mércia era cruel. ela acabou comigo. não sei por que, mas as mulheres parecem ficar piores a medida que amam. depois eu explico isso. mas voltando ao cão do meu pai. não. voltando a mim. é, porque Astor cão, Astor eu. a comunicação é cruel, Jupira. mas veja, na verdade o cão nem tanta importância assim. apesar de que Astor, o cão, parecia um anão. não porque ele era pequeno. acho mesmo que ele tinha dentro dele um anão. mas eu volto a essa história depois.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O nome da Rosa

Tenho a impressão de que nada justifica o fato de meu nome, Jupira, ter sido escolhido pela mistura do nome de meu pai, Juvenal, e de minha mãe, Valmira. Inclusive, era preu ser Jumira, mas aí eles acharam que não ficaria bom e acabei Jupira mesmo. Tá certo que existe a chance de mudar, mas não tenho mais disposição pra tanto, primeiro, porque dá um trabalho danado, depois, porque, querendo ou não, já me apeguei ao meu nome e acho que tem razão quem diz que a gente se acostuma a tudo nessa vida. Na verdade, na verdade, quando tinha uns 20 anos, conheci um homem mais velho que me chamava de Juju e me cortejava com tanta competência que cheguei à conclusão de que de nada adianta ter nome bonito e ser infeliz. Dos males, definitivamente, fico com o menor. Pra todos os efeitos, sou Juju pros íntimos.