terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sou brasileiro imperador!

Arrumei um emprego em um bar onde o pessoal é animado pacas, Jupira. Eu andava meio durango kid e resolvi ganhar uns trocados. Nesse meio tempo, apareceu a Celeste que cismou que queria casar comigo, mas na verdade ela só queria mesmo é um ombro pra chorar. A gente já conversou sobre isso, não é? Essa mania que esse pessoal do nosso tempo tem de fazer do amor uma terapia, ou fazer do amor um terapeuta. Você me entendeu. Mas isso não interessa muito porque o que eu precisava mesmo era de uns trocados depois que eu voltei de Salvador. Bom, arranjei o trampo nesse bar. Dou uma chegada lá dois dias na semana, rola um samba num dia, rola uma salsa no outro além de muitas surpresas nessa vida de meu deus. E a surpresa da hora foi a seguinte: minha tia passou por lá sem me avisar. E eu nem sabia se ela ainda existia. E isso já faz mais de anos. Achei até que tinha morrido. Mas não. Tá numa sorte que até deus duvida. Fiquei pasmo. Acho que não te falei dessa minha tia, não é? Nós chegamos a morar juntos. Na verdade ela criou o adolescente que eu fui e que eu não me lembro mais... enfim. Eu tava servindo o povo e dançando, como sempre, e tomando umas sem pena, quando me vi nos braços da minha tia descambando o: “quero viver como passarinho / cantar, voar sem direção...” sabe essa? Não via minha tia há tempos. Ela uma vez falou pra mim mais ou menos isso que te falaram de uma oitava acima. E logo depois ela se escafedeu. E olha que a oitava dela nunca foi muito lá embaixo, não. A danada nem envelheceu muito. Só tá usando uns óculos mais fortes e continua bebum. Ela procurava por essa vida as salsas que ela tanto gosta, mas foi parar no bar no dia que rolava o samba. Minha tia dizia que eu só prestava no dia que eu chegava mais cedo em casa e bebia conhaque com ela, que eu era aquele amigo que só tinha dinheiro pra bebidinha, e que se ela precisasse de um remédio eu não me pronunciar. Um coisa essa minha tia. Esse é o jeitão dela. Mas ela me amava, podes crer. Sempre me amou. Mas essa mania de salsa e rumba, cuba libre e um bolero com umas reluzentes lágrimas no fim da noite me enchia, vou te contar. Apesar que eu adoro bolero. Bom, o negócio foi que quando eu abri meus olhos [porque tenho mesmo a mania de dançar de olhos meio fechados], minha tia me olhava com cara de quem via a colheita se deteriorar. ASSSSTOR! Ai, tia, a senhora por aqui? Como me encontrou? Primeiro o cheirinho, me encheu a paciência porque eu tava fumando, depois olhou meus dentes e me mostrou os dela. Depois chorou. Fez um mimimi que só as tias fazem nos nossos ombros e me mostrou, por fim, o senhor de toda a boa sorte dela: um simpático grande homem de vinte e três anos dono de uma ilha lá perto de Angra dos Reis. Ah, Jupira...foi instantânea a alegria. Como foi bom saber de titia. Mas daí acho que apaguei. Desmaiei. Porque acordei com a Celeste esfregando meus pulsos. Recobrei rápido a razão e adivinhei o que minha tia havia feito [sempre ela deu um jeito de esbofetear minhas namoradas], mas não sei se fez desta vez. Celeste, nesse ponto, é um túmulo, daquelas que sofre calada, sabe? Fui lavar o rosto e a cabeça na pia do banheiro. Coloquei a mão no bolso e encontrei um belo cheque de uma grana boa. Fiquei cantando o samba até o dia clarear. Depois fui embora. Agora vou ver se conheço a ilha do namorado de titia. E isso tem que ser rápido, Jupira, porque se mal me lembro, o rapagão, novo como ele só, tá meio... assim, assim... sabe? Não funciona lá muito bem. Você me entende, né? E minha tia [como todas as mulheres da minha família] é quase uma lava vulcânica viva. Jupira, não sei por que, mas tou me sentindo tão brasileiro com esse cheque que ganhei de presente...Será que é decepção com os candidatos presidenciáveis que temos em nossa frente? Ih, grilei!

9 comentários:

  1. Astor, aqui é Poliana, criadora da Jupira. Queria só dizer que acho você incrível e, caso você existisse de fato, poderíamos ser ótimos amigos.
    Um beijo com cheiro de flordelaranja procê.

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  2. caríssima poliana, também acho você uma mulher incrível. seja muito bem vinda aqui no nosso pedaço. só não atrapalha a jupira a escrever, porque senão a gente fica sem contato. e nós precisamos muito um do outro. beijos e até breve, porque eu estou indo jajá pra ilha do namorado da minha tia lá em Angra. não sei se lá tem rede. mas dou notícias! ainda existe telegrama, né?

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  3. Arrasou, Astor, alguém tem que dar limite pra essa autora!
    Se cuida.

    PS: Claro que existe telegrama ainda.

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  4. pois então, linda, por um momento cheguei mesmo a pensar que não existia mais telegrama... com toda essa tecnologia... rsrs

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  5. Caro Astor,

    Estou tentando arrumar um tempo pra deixar a Jupira sentar no computador e liberar as ideias que ela anda tendo. Ah, como bem disse a Linda, ainda existe telegrama, sim, mas, de todo modo, mesmo lá no sítio não tendo rede, de repente você acha um cyber café nas proximidades, né? A propósito, você levou seu laptop?
    Bjos de flordelaranja.

    PS: Ontem fui ao show do Serguei, aquele que mora em Saquarema e comeu a Janis Joplin, sabe? Quando cheguei em casa, Jupira tava revoltada que não a levei comigo. Mas, sei lá, achei que não ia prestar...

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  6. tou com meu lap top, sim, poliana. minha tia me arranjou uma... vocês nem sabem... tou num lugar na ilha grande chamado provetá! tem até um alto falante na cidade que o pastor de uma igreja faz suas comunicações com o povo... surreal aqui...minha tia me paga. vocês vão ver. mas tudo bem.
    serguei? você foi no show do serguei???? pensei que ele já tinha passado desta pra melhor... eu tou realmente atrasado nesse mundo de meu deus... mas em todo caso, acho que foi a janis que comeu ele, né? rs. mas ele é bem divertido. se bem me lembro.
    tou esperando a jupira. aliás, por onde ela anda?

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  7. Linda, assim eu me sinto mais viril ainda. rs.

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