terça-feira, 3 de agosto de 2010

Réplica para uma liberdade qualquer

Eu estava meio perdido por esse mundão aí. Sabe se perder? Não se perder pra se encontrar. Perder-se mesmo. Até vento bom ventar e te carregar. Uma folha que vira rápida. Uma palavra da doida que te leva pra baixo de um bonde. A sacola da dona que estoura tomates. A mão do guarda que não aponta direito. A asa do condor que se estira parada. Perder assim. Mil agulhas e uma linha. Perder esse. Sabe pessoa com gotas de suor, lágrima, sal do mar na pele, unhas, todas as unhas? Uma pessoa parada com mil palavras, o mundo inteiro de uma pessoa, um campo de batalha de uma pessoa, um ser de uma pessoa, dois seres de uma pessoa, três seres de duas pessoas, amor de cão, rato no muro, tijolo aberto, buraco de fechadura, quarto de casal, de empregada, computador de menino, música toada, sinuca de bico, peixe de pele, escama de pé. Sabe perder-se no domingo? Inferno astral, segundo sol, era de aquário, história de uma mesa, de uma cama, de um copo. Sabe cadeira? Perder-se no sentar, cadeira vazia, borracha queimada, tempo de cheiro. Sabe Cheiro? Perfume quebrado, quarto mofado, poeira de canto, periquito branco, madeira de banco, comida de branco, colher de chá, de sopa, faca de ponta, de gume, de dois. Sabe um Estado? Bahia, Recife, Aracajú, Cajuína, Tindorerê, Tocantins? Sabe fruta doce? Comi uma azeda. Sabe café preto? Nunca vi. Sabe fruta pão? Passo. Esqueci de me vestir, Jupira. Acordei em Setembro. Farinhei tempo. Passeei no arame. Comi salada de veias. Perdi veias, vasos, varizes.

Vi tudo isso que te digo escrito numa placa quando eu ia pra próxima parada.

Eu estava dormindo quando a explosão se deu.

Escrevi tudo isso quando li uma mensagem no meu celular, que dizia assim pra mim: te vi agora.

Eu ia lá e resolvi ficar. Não sei que lugar é esse que estou, mas acho que conheço. Parece uma caixa. Um cinzeiro. Um hotel cinco estrelas. Parece a rua Voltuntários da Pátria. Não sei que lugar é esse. Mas acho que já estive aqui. Mas tudo bem. Eu volto já. Não demoro. A porta está aberta. Tou sem telefone, a bateria acabou e tou sem skype. E não reclamo.

2 comentários:

  1. acho que te vi agora na tijuca, é possível?

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  2. passei pela tijuca na semana passada...sim. será? à noite? deve ter sido, Jupira! onde vc estava pra me ver?

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