as bisas sempre são sortudas. repletas de alegria. minha bisa paterna era quentíssima. chamava-se Isabel. farinha com ela, seu pirão primeiro. sentava na varanda e falava meia dúzia de palavrões e algumas piadas do Bocage. seu genro, meu avô, dizia que ela era uma sogra fogueteira. ela não estava nem aí. enquanto os homens preocupavam-se com a política do café com leite, dona Isabel cuidava mesmo do seu jardim e por ali mesmo namorava, assim ela dizia. mais velha ainda e já viúva, não perdia a oportunidade de encostar o ombro no meio das pernas dos homens nos ônibus enquanto fazia crochê. quando não queria e os machos abusavam, ela perguntava: “tudo azul?”. pensava mesmo era em espetar o malgrado da alma masculina com a agulha. ela achava os “pintos gelados”, dizia, e nunca entendera o porquê do órgão sexual masculino ser tão frio. uma espécie de refrigerador do sêmen? no mais, quando estava muito apimentada, levantava a saia e mostrava “a coisa preta”.
a bisa materna não ficava atrás. teve cinco maridos. mas foi com o penúltimo que descobriu o orgasmo. se sentiu bem. mas sentiu vertigem. quase desmaiou a primeira vez. foi ao médico. ele disse: “mas dona neila, isso que a senhora sentiu foi prazer.” no começo a velha achou estranho, depois queria por demais. viciou. certo que ela era meio histérica. mas era feliz. se deu o direito de pôr dez filhos pra fora. naquele tempo era uma folha que se usava. dona edila, a vizinha, escutava vozes. corria ao saber que a bisa tinha comprado fogão novo. que diabo de espírito morto era aquele que fazia fofoca da vizinhança??? a bisa quebrou o nariz de dona edila. seu honório, marido da vizinha, amava a bisa em segredo. arrumou até emprego numa repartição pra um dos maridos da bisa. a bisa levantou três casas com o último marido e arriou o períneo. sofreu de cistite. deixou pra mais de onze irmãos na Bahia. mesmo quando tinha que fazer o buço, se sentia linda. também nunca esqueceu de um dos maridos que afundou seu crânio. o mesmo jogava cerveja no assoalho depois que ela encerava. mulher assim é de virar santa. nem os raios de janeiro dão medo.
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